Queria te pássaro
Nesse coração de nuvens púrpuras
Voar nelas…
...E mais de mansinho ainda
Cruzar tranquilamente em silêncio
O teu crepúsculo vermelho
Chegar a ti…
Queria num breve olhar
Errante que fosse
Sentir-te sem as neblinas
... Das noites frias
Longas de outono…
À mercê de asas negras
Esvoaçando inquietudes
Desenhando anseios…
Queria-te pássaro
Desafiando os ares
Num voo de regresso…
Rosa Fonseca, in “Outras Viagens
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Tricotar a vida
Tricotámos retalhos
De tantas cores
Tecemos sonhos
Mesclámos momentos
Adornámos a nossa manta
Ponto por ponto
Entrelaçámos vida
Sem fim previsto…
Ontem…
Vislumbrei-me
desacompanhada
E prossegui a tricotar mais retalhos
Tingindo-os de névoas
Noites humedecidas
E madrugadas em leito arrefecido…
Ergui-me cega
de desejo
De Ser…
Ser retalho azul de águas distantes...
Verde de planícies apetecidas
Uni-os com fios de sol
Que as minhas mãos desfiavam
E…
Num
rendilhado aberto
Misturei as
cores guardadas em mim
Todas as cores da memória
Aprisionadas
no meu labirinto secreto
De sonhos habitados…
Agora
A minha manta
tem retalhos
Cerzidos a pétalas aveludadas
e aromas a noites de lua cheia…
Rosa Fonseca, in “Viagem”
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SE...
Se a lua me apertasse
contra si
ao seu coração…
Permanecia no seu aconchego
distante dos frios da noite
das desilusões suaves
e esperas penosas…
Aninhava um a um
os pensamentos
em cetim lavrado a estrelas…
e pernoitava em lençóis enfeitados
a carícias
de mãos infinitamente
sedentas e tímidas
a desfolhar afetos
suavizando o perfume
espalhado no rasto da noite
Num aprazível desvendar de madrugadas…
Rosa Fonseca, in “Sentires”